quarta-feira, 30 de julho de 2014

[Fundo de Catálogo] Elvis Presley - Elvis Presley (1956)


Não era suposto o puto ser Rei, nem do liceu, nem do rock' n' roll. Mas foi. "Heartbreak Hotel" foi o primeiro sinal que o álbum homónimo viria confirmar. Gravado entre os Sun Studios, em Memphis, e os estúdios da RCA, em Nashville, Elvis Presley chega às lojas a Março de 1956, alcançando o nº 1 do Top Pop Albums da Billboard. Por lá se manteve durante dez semanas, feito incrível para uma linguagem que ainda dava os primeiros passos. Se o disco de estreia de Bill Haley trouxe o rock' n' roll para o mainstream, Elvis elevou-o à estratosfera comercial. O homem já era alvo de alguma atenção, mas a estreia discográfica torna-se no primeiro álbum de rock a bater a marca do milhão de unidades. É apenas neste contexto que conseguimos perceber a célebre citação de John Lennon: "Before Elvis, there was nothing" (Antes de Elvis não existia nada).



Elvis, o cantor, o artista, o performer, tinha tudo para não resultar. A inabilidade televisiva, os dedos que apontavam na direcção de um tipo branco a cantar música de negros. Mais importante ainda: grande parte dos jovens norte-americanos queriam ser como ele e (surpresa!) pais, padres e professores não gostavam da ideia. Elvis era visto como um rebelde e despertava a sexualidade nas mulheres. Mas, como desde o início dos tempos, o fruto proibido é o mais apetecido. Elvis só não se tornaria Rei do liceu, onde terá passado despercebido. 

A imortalidade e mitologia de Elvis Presley começa pela capa: durante anos pensou-se que a fotografia da mesma era autoria de Popsie Randolph, uma vez que no álbum surge creditado como fotógrafo. Já em 2002, o produtor Joseph A. Tunzi viria a esclarecer tudo, destacando o facto de a fotografia pertencer a William V. "Red" Robertson, ele dos Robertson & Fresh. Mas o legado vai para lá da sua beleza e mitologia. A capa de Elvis Presley inspirou, entre muitas outras, a icónica capa de London Calling, o álbum clássico dos Clash. 


Elvis era acima de tudo um performer, pelo que nenhuma destas canções foi escrita pela sua pena. "Blue Suede Shoes", por exemplo, é um original de Carl Perkins influenciado pela experiência de guerra de Johnny Cash. Reza a lenda que Cash terá conhecido um aviador chamado C. V. White durante a 2ª Grande Guerra, na Alemanha. Certo dia, em conversa, White ter-se-à referido aos sapatos dos próprios aviadores como "blue suede shoes". Cash terá contado esta história a Perkins juntamente com um pedido: "escreve uma canção sobre isto". Nunca tendo visto tais sapatos, Perkins guardou a ideia na memória. Mais tarde, num concerto do próprio, um tipo da plateia virou-se para Perkins reclamando para que não lhe pisasse os sapatos, os tais blue suede shoes. "I Got a Woman", "Tutti Frutti" (a do mítico "a-wop-bom-a-loo-mop-a-lomp-bom-bom") são outros célebres originais que Elvis repescou. A ascensão começou aqui.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

[Fundo de Catálogo] Bill Haley & The Comets - Rock Around the Clock (1955)


Datar o início do rock' n' roll é uma das maiores discussões do século XX e XXI. Já descontando que há quem diga que o rock' n' roll não é mais do que o rythm & blues tocado por brancos, passeamos pelo YouTube e assistimos a acesos debates relativamente a algumas canções dos primórdios do rock n' roll. Há quem diga que é esta, outros dizem que é esta, uma maior quota-parte diz que é esta e a maior parte diz que não é nenhuma destas, mas sim outra, algures perdidas nos finais dos anos 40/inícios dos 50. 



O consenso surge no momento de apontar a primeira canção, aquela canção que tornou o rock' n' roll numa coisa de massas, a canção que alcançou as tabelas de vendas (nos Estados Unidos da América e no Reino Unido, na sequência dos créditos iniciais de Blackboard Jungle) e airplay nas rádios: "Rock Around the Clock", a primeira canção do álbum homónimo, o terceiro de Bill Haley. Mas o parto de uma das mais célebres canções de sempre não foi fácil: o clássico foi editado pela primeira vez como lado B desse outro clássico que é "Thirteen Women (and Only One Man in Town)" e, diz toda a mitologia em redor do mesmo, foi copiado de uma gravação dos finais da década de 40 de Big Joe Turner, apenas porque se chamava "Around the Clock Blues". As canções não são de todo semelhantes e argumenta-se ainda que a melodia da canção de dois minutos e oito segundos de Haley é similar à de "Move it on Over" (1947) de Hank Williams, que, por sua vez, é similar a "Going to Move to Alabama" (1929), de Charley Patton, que, por sua vez, deriva de "Kansas City Blues” (1927), de Jim Jackson. Sim, nos anos 50, o rock’ n’ roll já se auto-citava constantemente.



Mais mitologia: antes de "Rock Around the Clock", cujo título original terá sido "We're Gonna Rock Around the Clock Tonight", Haley tentou uma carreira como cantor country e experimentou relativo sucesso com "Crazy Man, Crazy", canção que atingiu o nº 1 do Top Billboard R&B. A 7 de agosto de 1955, Bill Haley & The Comets haveriam de apresentar-se no Ed Sullivan Show e, dois anos depois, viajaram para a Europa. O sucesso da canção acabou por ser capitalizado em filme e até deu uma paródia para a Rua Sésamo.

O resto do álbum não é tão memorável, mas é material clássico. "Shake, Rattle and Roll" é uma versão do original gravado por Big Joe Turner que chegou ao primeiro lugar no top rythm & blues norte-americano da Billboard. A história cruzou-os várias vezes e Turner e Haley haveriam de se tornar amigos e fazer uma digressão pela Austrália, em 1957. Elvis também ele, gravaria uma versão do clássico. No campo das curiosidades (mórbidas), Danny Cedrone, músico de estúdio que tocou guitarra na versão de Turner haveria de morrer apenas 10 dias depois da gravação, tornando-se esta a sua última e mítica sessão de estúdio. 



"Thirteen Women" conta a história de um homem que sobrevive a uma bomba nuclear e que se vê sozinho, apenas rodeado de mulheres. A guitarra que ouvimos terá sido criada com a intenção de simular explosões de hidrogénio. Mais tarde haveria de aparecer a resposta feminina - versão dos acontecimentos: explosão nuclear com uma única mulher sobrevivente, rodeada de vários homens. 

Especule-se o início do rock' n' roll, mas, tal como o conhecemos, começou aqui. Elvis haveria de explodir pouco depois e é impossível quantificar o número de bandas ou artistas que se sentiram inspirados pela obra do Neil Armstrong do R&B, Mr. Bill Haley e os seus Comets. 

sexta-feira, 4 de julho de 2014

[Volta ao Mundo] Albânia #6: A pop albanesa - Parte I


A pop albanesa pode dividir-se em dois grupos: o que explora as raízes locais e o ocidentalizado. O primeiro constitui a velha guarda, artistas que começaram nos anos 80, como Parashquevi Simaku e Merita Halili - a primeira conheceu reconhecimento ainda nessa década, a segunda, com influência turcas, só atingiu o estrelato a meio da de 90. Nos anos 90, há ainda Adelina Ismadli (cantora, actriz e modelo, enfim, uma estrela à escala regional) que explora a música tradicional albanesa, funde-a com a electrónica e torna-a dançável.