sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

[Fundo de Catálogo] Bob Dylan - Bob Dylan (1962)


Bob Dylan, ou seja, Dylan Thomas a servir de inspiração para o nome pelo qual Robert Allen Zimmerman haveria de ser reconhecido. O mito começa aqui. John H. Hammond, que dez anos depois haveria de fazer o mesmo com Bruce Springsteen, agarra e leva-o à editora, a Columbia, uma das poucas que não o tinha recusado. Muda-se para Nova Iorque e grava tudo num só take e três tardes - relatos das sessões referem-se a ele como indisciplinado, "não consigo tocar a mesma canção duas vezes seguidas", terá dito. 402 dólares custou Bob Dylan. Não vendeu quase nada (cerca de 500 cópias no Reino Unido, residualmente nos Estados Unidos), mas não terá dado prejuízo. A "Loucura do Hammond", foi assim que o protegido de John H. passou a ser conhecido após o falhanço comercial.



Clássicos folk - ouviu todos os seis discos e cerca de oito horas da compilação Folkways Anthology of American Folk Music - e blues compõe o essencial do reportório. O resto são dois originais escritos pelo próprio, "Talkin' New York" e "Song to Woody". A capa guarda aquelas que talvez sejam as mais interessantes histórias que rodeiam a estreia discográfica de Dylan: a dita coloca a fotografia de Dylan ao contrário, tudo para que a guitarra não tapasse o logo da Columbia Records. A fotografia é de Don Hunstein, na altura o fotógrafo oficial da editora que haveria também de imortalizar as capas de The Freewheelin também de Dylan e Sounds Of Silence dos Simon & Garfunkel. 


Não é o melhor álbum de Dylan, está aliás longe de o ser, é apenas um disco de versões - algo muito valorizado no início dos anos 60, altura em que as covers vendiam mais um artista do que os originais -, mas conserva já o tique que haveria de compor os melhores anos de Dylan: a atitude "não quero saber" que o levou à mudança de som e álbuns propositadamente maus. 

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Mark Ronson - Uptown Special


Não é de agora nem vem na sequência de Random Access Memories (RAM) dos Daft Punk. Aliás, vem na sequência de RAM, mas não terá sido essa a grande motivação de Mark Ronson para este quarto álbum a solo. Aliás, Ronson já fazia isto quando os Daft Punk se auto-proclamavam Human After All, ao mesmo tempo que, ironicamente, editavam o seu registo menos humano. Uptown Special é um álbum à Mark Ronson, ou seja, ele pensa o que os outros executam. Neste caso, os outros são o romancista Michael Chabon (nas letras), Bruno Mars (na incrível "Uptown Funk"), Mystical (qual James Brown em "Feel Right") e Kevin Parker (os momentos mais singulares/psicadélicos). Ou seja, Uptown Special é uma vénia à soul, funk, r&b dos anos 60/70 - com Stevie Wonder a fazer a ponte entre esses anos e os de hoje - e o prolongar da interminável lista de contactos do produtor.