terça-feira, 31 de maio de 2016

[Fundo de Catálogo] The Beatles - Help! (1965)


Seria muito injusto descrever Help! apenas como "banda sonora" ou o álbum de "Yesterday", aparentemente a canção que mais covers na música pop gerou (punha todas as fichas na "Hallelujah" de Leonard Cohen, mas também está bom). Isto é efectivamente a banda sonora do filme homónimo, o sucessor do bem sucedido Hard Day's Night, lançado no ano anterior, e o registo inclui a canção que terá começado num sonho de Paul McCartney e terminado em Portugal, Albufeira, com a guitarra de Bruce Welch.



Mas Help! significa muito mais. É um álbum que vale por si, mas também é de transição para o que viria a ser o importantíssimo Rubber Soul. É o último a integrar várias covers, intervaladas entre originais de calibre, entre o rock dos primeiros anos e as novidades folk e o country - notória a influência de Dylan. Note-se a maior participação de George Harrison ("I Need You" e "You Like Me Too Much") e até a voz de Ringo ("Act Naturally"). Em 1965, Malcolm X é morto, a Guerra do Vietname faz meio caminho e os Beatles preparam-se para revolucionar a pop - outra vez.

sábado, 28 de maio de 2016

[Fundo de Catálogo] The Byrds - Mr. Tambourine Man (1965)


Provavelmente, este será o mais importante álbum de estreia de 1965. Está-lhe inerente a fundação do termo folk-rock, algo que, a grande inspiração deste disco, Dylan, viria a cimentar nos próximos anos, ao mesmo tempo que chocava os fãs de folk pura - Bringing It All Back Home, do mesmo ano, já tinha um pouco dessa polémica.

Os Byrds chegam a este som em que se destaca a 12-String Rickenbacker (muito celebrada nos anos 60) com um passado centrado na folk, sem rock. Os  próprios Byrds seriam fãs do Dylan dos primeiros discos, mas, ao contrário dos fãs mais rancorosos, seguiram a direcção do músico e poeta - esta veia poética, aliás, também surge representada Mr. Tambourine Man, com referências a Idris Davies e Dylan Thomas. São várias as canções escritas pela pena de Dylan e o mais celebrado original deste álbum, "I'll Feel a Lot Better", é admitidamente inspirada em "Needles and Pins" dos Searchers. Vale a pena mencionar também a clara influência dos Beatles e até arriscar umarriscado paralelo com as harmonias dos Beach Boys. 



Mas a mestria dos Byrds está em pegar no legado dos outros e criar o seu próprio som. Foi isso que fizeram: depois de influenciados, influenciaram multidões de bandas. 

quarta-feira, 18 de maio de 2016

[Fundo de Catálogo] Bob Dylan - Bringing it All Back Home (1965)


É o Dylan eléctrico, o Dylan traidor, o Dylan que cospe no legado da folk tradicional. Ou, pelo menos, era assim que os fãs dos primeiros quatro discos o viam. Bringing it All Back Home até é mais acústico do que eléctrico, mas os fãs não lhe perdoaram a ousadia. A electricidade é apenas um sinal. Dylan queria fazer diferente - não é por acaso que "Subterranean Homesick Blues" é muitas vezes apelidada de precursora do hip hop, não andará muito longe da verdade. Aquela que será, porventura, a mais celebrada canção deste registo terá sido inspirada em "Too Much Monkey Business", de Chuck Berry - é a música pop já a citar-se, logo no início.



O 5º disco de Dylan vem na sequência do encontro com os Beatles e da consequente "troca de influências" - também virá daqui a roupagem mais rock. Dylan terá introduzido os fab four à marijuana, qual convite à inspiração que também ia apanhando um imberbe Brian Wilson. As canções de protesto e sobre os direitos civis já não são novidade, mas aqui, Dylan está numa forma tremenda.  


E a capa, senhores? A capa (de Daniel Kramer) merece um parágrafo só para si, tal é a quantidade de elementos. Uma catrefada de vinis, eventualmente os que influenciaram este disco- ou não. São eles: Keep on Pushing (The Impressions), King of the Delta Blues Singers (Robert Johnson), India's Master Musician (Ravi Shankar),  Sings Berlin Theatre Songs by Kurt Weill (Lotte Lenya), The Folk Blues of Eric Von Schmidt (Eric Von Schmidt), Another Side of Bob Dylan (o próprio) e The Best of Lord Buckley (Lord Buckley). Há a Time de 1 de Janeiro de 65, com Presidente Lyndon B. Johnson na capa, uma harmónica na mesa, o gato (Rolling Stone) no colo do próprio Dylan e também lá está Sally Grossman, a mulher de Albert Grossman, o manager de Dylan. Os botões de punho terão sido oferecidos por Joan Baez - é a própria que o diz na canção de 75, "Diamonds & Rust". 

Seguia-se Blonde on Blonde.

domingo, 15 de maio de 2016

[Fundo de Catálogo] Beach Boys - Today! (1965)


Estes já são uns Beach Boys diferentes, em palco e em estúdio. Wilson a solo entre os botões, os restantes elementos a provocar a histeria nas digressões. Wilson, jovem de 22 anos, recém-vítima de um ataque de ansiedade que o introduziu à marijuana - método de prevenção de ataques de ansiedade, claro. O homem terá gostado tanto do efeito, principalmente ao nível da composição, que a continuou a usar para efeitos profissionais. 



Today! antecipa Pet Sounds.  um disco de transição, um álbum teste para aquilo que se seguiria, a mais reconhecida obra-prima dos Beach Boys, já longe do som surf e das letras dedicadas a jovens adolescentes. A ideia de álbum de transição é quase literal: a 1ª   metade é mais acelerada, com um som menos imaturo que o dos discos anteriores, mas ainda a estabelecer a ponte para as baladas mais adultas que compõem a 2ª parte do registo. São então uns Beach Boys mais sofisticados, com muito mais camadas de produção. Enfim, a sempre tão celebrada maturidade. 

quarta-feira, 11 de maio de 2016

[Fundo de Catálogo] John Coltrane - Love Supreme (1965)


A obra-prima de John Coltrane não é dele. É de Deus. Parece uma daquelas informações exageradas que tentam puxar pelo interesse do leitor, mas a frase, mais variação menos variação, é dele. Love Supreme (o próprio título refere-se a um amor maior, o de Deus) é descrito como a procura da purificação e o agradecimento por um talento que não é dele, mas do altíssimo. Faz então sentido dizer que este disco vinha a ser construído desde 57, altura em que Coltrane se começa a livrar-se do álcool e das drogas. Este é o testemunho dessa desintoxicação aliada a uma fé que só viria a crescer. Só viria a ser apresentado ao vivo uma única vez.



Love Supreme é também o último registo com o quarteto mais celebrado saxofonista: McCoy Tyner no piano, Jimmy Garrison no baixo e Elvin Jones na bateria. Muitas vezes destacado como o 2º mais importante disco de jazz de sempre, logo a seguir a "Kind of Blue" de Miles Davis, Love Supreme vendeu como disco pop e viria a influenciar gente como os U2 (amor declarado em "Angel of Harlem"), Patti Smith e Steve Reich.