sábado, 11 de junho de 2016

[Fundo de Catálogo] Beatles - Rubber Soul (1965)


Rubber Soul é o disco que muda tudo. E não nos referimos apenas aos Beatles, este será o álbum mais importante do grupo, tem o condão de despertar a concorrência e a música pop. A partir de Janeiro de 66 nada mais será igual. Referimo-nos a Brian Wilson, claro, mas não só. Em 65, o 6º álbum dos fab four passa a ser barómetro. Mas a relação é reciproca, os Beatles não teriam chegado a Rubber Soul sem os Byrds ou Dylan. Estes e outros, como The Who e Rolling Stones, juntam-se a Wilson nesse louvor mascarado de inveja. 


Esta é a fase da marijuana e pré-LSD, é o momento dos Beatles criarem algo maior. E começa na forma como canibalizam as influências de várias culturas: a importação de motivos orientais para a música ocidental, com a sitar em "Norwegian Wood" - influência de Roger McGuinn e David Crosby dos Byrds, eles, amigos de Harrison. Mas há mais: a chanson em "Michelle", uma das canções mais celebradas, e, claro, a influência norte-americana, de Bob Dylan no lado mais folk e de alguma soul que nesta altura ia dominando os tops. 


Estes são os Beatles a abrirem-se ao mundo e às drogas. Provavelmente, o melhor disco pop até 1965.

sábado, 4 de junho de 2016

[Fundo de Catálogo] Otis Redding - Blue Otis (1965)


Pode um disco de versões ser um dos melhores de todos os tempos? Pode, se cada interpretação garantir a si mesma uma nova identidade, se cada canção colocar a superioridade do original em questão. Aqui há uns dias, no carro, ouvia-se o Roleta Russa na Radar. Não nos lembramos do convidado, mas recordamos a pergunta: "conseguem dizer-nos uma interpretação que supere o original?". Resposta: "bem, podem não concordar, mas "(I Can't Get No) Satisfaction" dos Rolling Stones, pelo Otis Redding. Otis Blue é isto, canções que, eventualmente, terão superado os originais.



Há quem diga que não há melhor disco de soul nos anos 60, há quem vá mais longe e diga que não há melhor disco soul em todo o sempre. O miúdo que deixou os tipos da Stax boquiabertos atingia a maturidade com um registo que, como grande parte dos discos da altura, foi gravado em tempo relâmpago: 24 horas, mais coisa menos coisa. É verdade que músicos como Steve Cropper, Donald Dunn, Al Jackson Jr. (todos dos Booker T & MGs) e Isaac Hayes ajudam, mas, por norma, colocamos o talento desses músicos ao serviço de Redding, mas está reportado que a própria banda admitia que o interprete os levava para um outro nível. 


Sam Cooke tinha falecido no dia 11 de Dezembro de 64. Coincidência: ironicamente, Otis acabaria por morrer no dia 10 de Dezembro de 67, exactamente três anos depois da sua referência maior. 

sexta-feira, 3 de junho de 2016

[Fundo de Catálogo] Bob Dylan - Highway 61 Revisited (1965)

Sabíamos que Dylan (e, consequentemente, o mundo) estava a mudar. A forma como ligou Bringing It All Back Home à corrente é sintomática. Meio acústico, meio eléctrico, Dylan anuncia aquela que viria a ser a grande metamorfose da sua carreira - entretanto, no mês anterior, chocara o público do Newport Folk Festival com um set generosamente ligado à corrente. Enfim, a história está mais do que batida, não vamos dizer que, de um lado estavam os chatos dos fãs acústicos, do outro os que adivinham ali o homem que ia mudar isto tudo. Também sabemos que Robert Allen Zimmerman tinha ganho sensibilidade política com os pais de ex-namorava Suze Rotolo, entre 61 e 64. Não admira que este Highway 61 Revisited se foque tanto na análise social e política, aliado a um som inevitavelmente mais bruto. Este é o seu primeiro disco quase 100 por cento rock.



A história da Estrada que protagoniza o 6º álbum do músico guarda alguns factos e mitos. Foi por aqui que nasceram e/ou viveram Muddy Waters, Son House, Elvis e Charley Patton. Bessie Smith faleceu aqui e, diz a lenda,  que foi no cruzamento da 61 com a Route 59 que Robert Johnson vendeu a alma ao diabo. E, claro, é também a estrada que levava à casa de Dylan. A gravação não terá sido pacífica, com Dylan a equacionar desistir disto tudo. Imaginem, um mundo sem Dylan. É possível? Mas, vá, depois chegou a "Like a Rolling Stone" e voltou a sentir que teria que fazer disto vida. Como não concordar? "Like a Rolling Stone", a abrir, rivaliza em ambição com a última "Desolation Row", canção de 11 minutos, imagine-se. Um name dropping de 11 (!!) minutos em 1965, num disco rock? Ou louco, ou génio ou as duas coisas. 


Nesta altura, independentemente das críticas à electrização, cada disco era melhor que o anterior.