domingo, 13 de novembro de 2016

[Fundo de Catálogo] James Carr - You Got My Mind Messed Up (1966)


A maior injustiça saída de 1966? You Got My Mind Messed Up, de James Carr, continuar a ser um disco de poucos e ser, no mínimo, tão bom como Blue otis, de 65. Uma obra-prima, um dos melhores discos soul de sempre e logo à primeira. Não fosse uma doença bipolar e certamente teria conquistado o mundo. É verdade que a sua tragédia é diferente da de Otis, mas é soul perdeu duas das suas melhores vozes de sempre de forma absolutamente dramática.

sábado, 12 de novembro de 2016

[Fundo de Catálogo] Cream - Fresh Cream (1966)


Os Cream enganaram-nos bem. Fizeram-nos acreditar na fórmula dos super grupos. Que bastava juntar uma série de grandes músicos que estes retribuíam com grandes canções, enormes álbuns. Entretanto, falhanço após falhanço nos ingredientes aprendemos a dar ainda mais valor ao primeiro super grupo da história, o que foi composto por Ginger Baker, Jack Bruce e Eric Clapton. Num ano em que só dava rock 'n' roll e psicadelismo, os Cream criam outra coisa e, como consequência, foram os primeiros em muitas coisas: os primeiros power-trio, os primeiros a colar ao guitarrista o sufixo "hero" e a criar um disco hard rock . Estão aqui as raízes mais profundas do heavy metal.

[Fundo de Catálogo] Love - Da Capo (1966)


Mais uma banda a picar o ponto na novíssima cena psicadélica. E porque não? O segundo disco dos Love ainda não é Forever Changes, mas já nos explica o fascínio de várias bandas punk pela banda de Arthur Lee: "Seven and Seven is" pode muito bem ser classificada como primeira canção punk de sempre. Da Capo significa muitas mudanças: na sonoridade, no alinhamento (Michael Stuart passa a ser o baterista e Alban "Snoopy Pfisterer passa a ocupar-se do harpsicord e orgão) e na direcção. Têm um Lado A composto por seis canções e, à imagem de Dylan e dos Mothers of Invention, uma única faixa no Lado B. É aí que caem mais claramente no caldeirão psicadélico. 


sexta-feira, 11 de novembro de 2016

[Fundo de Catálogo] The Kinks - Face To Face (1966)


Embora seja mais celebrado como eventual primeiro álbum conceptual da história, Face to Face dos Kinks é mais uma quase perfeita colecção de canções, muito à imagem de Rubber Soul dos Beatles ("Party Line", aliás, poderia lá estar). Ou, como diria Brian Wilson, um disco sem canções para encher. Ray Davies a atingir a maturidade enquanto escritor de canções, embora anos depois de "You Really Got Me". Numa altura em que toda a gente se virava para a corrente psicadélica, só um disco de canções perfeitas para nos chamar a atenção e ficar bem na história discográfica de 66. 

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

[Fundo de Catálogo] 13th Floor Elevators - The Psychedelic Sounds of the 13th Floor Elevators (1966)


Mas afinal quem inventou o psicadelismo enquanto definição de um som? Uns dizem que foram os Beach Boys, outros apontam os Mothers of Invention, outros os Beatles, outros ainda os Byrds. Mas parece existir consenso na hora de apontar os 13th Floor Elevators como fundadores do género, o que só pode ser gancho histórico, pois a estreia discográfica só surge depois de todos os nomes enumerados lá em cima terem picado o ponto. Como já dissemos anteriormente, não existirá uma banda a servir de pai ao género psicadélico, mas sim um pai materializado no LSD que ajudou a dar à luz vários filhos. 

Mas se a paternidade se deve à droga, a educação, essa, acaba por ditar comportamentos diferentes e oferecer histórias interessantes. A dos 13th Floor Elevators passa por beber das jug bands, indo buscr o instrumento que lhes dá nome e modelar-lhe o uso criando efeitos na voz. E essa é a grande novidade dos 13th Floor Elevators: um som vocal distinto que nos acompanha ao longo de 11 faixas. Para além, claro, de serem os primeiros a casar garage com psicadeleismo e surf rock. Têm também o mérito de fazer a primeira associação directa de sempre de música a psicadelismo: é olhar para o título.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

[Fundo de Catálogo] Simon & Garfunkel - Parsley, Sage, Rosemary and Thyme (1966)


Despachemos a incoerência: o terceiro disco de Simon & Garfunkel sai apenas nove meses depois de Sound of Silence, disco apressado, mas editado uns 18 longos meses depois da estreia Wednesday Morning, 3 A.M. À imagem de Pet Sounds, este Parsley, Sage, Rosemary and Thyme custou uma fortuna em 66, ano pouco habituado a estes valores: 30 mil dólares, 219,169 dólares na conversão para 2016. E, tal como Beach Boys e Beatles, o duo tinha controlo total naquilo que se fazia em estúdio. A inclusão de instrumentos como o harpsichord e bongo permitem estabelecer mais um paralelo com os clássicos que vinham da Califórnia e de Liverpool.

Um ano depois da visita a Inglaterra, Simon continua fascinado. É o título do disco, é a faixa de abertura, são as canções ressuscitadas de The Paul Simon Songbook, disco declaradamente inspirado por terras de Sua Majestade. E há curiosidades como "The Big Bright Green Pleasure Machine", uma crítica à publicidade televisiva, "A Simple Desultory Philippic", uma paródia a Bob Dylan, a assumida grande inspiração de Simon, e "7 'O Clock News/Silent Night", magnífica sátira que é uma síntese de 1966 em que a canção de natal é acompanhada de Charlie O'Donnell, apresentador de notícias que dá conta da overdose do comediante Lenny Bruce, o Chicago Freedom Movement liderado por Martin Luther King e protestos anti-Vietname. 

Muito provavelmente, a obra maior do duo. 

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

[Fundo de Catálogo] The Mamas and The Papas - The Mamas and The Papas (1966)


O início e o fim dos The Mamas and the Papas é sintomático: na temporada 66/67, as coisas aconteceram a uma velocidade sem qualquer paralelo na história da música pop. No caso da banda de São Francisco, metáfora perfeita para o ano em que aconteceram, entre Fevereiro (mês da estreia) e Agosto (mês deste segundo objecto de originais), Michelle Philips, mulher do principal compositor John Philips, é expulsa na sequência de dois casos: um já tinha sido perdoado em 65 e envolveu Denny Doherty, o outro elemento masculino da banda. O outro, já de 66, colocou Gene Clark, um dos Byrds, como protagonista. A banda implodia, mas resistiu até este homónimo: Jill Gibson,  mulher do produtor Lou Adler (grande prova de confiança!), voz próxima da banda substitui e, cara bonita por cara bonita, a qualidade das harmonias não se perde e o som parece aproximar-se mais da soul (certo, há uma cover de Martha & The Vendettas) e há uma canção que se aproxima de níveis oníricos até aí pouco experimentados. Para a história fica a alegada presença de Ray Manzarek (com os Doors a meses de darem o seu salto) logo na faixa de abertura com um orgão à "Like a Rolling Stone". Para os interessados, a capa também dá  uma novela engraçada.

sábado, 5 de novembro de 2016

[Fundo de Catálogo] Donovan - Sunshine Superman (1966)


Mais um que caiu no caldeirão psicadélico, não é? Na segunda metade de 66, as quedas os tropeções eram cada vez mais recorrentes e a Aldeia Gaulesa parecia cada vez mais global Até Sunshine Superman, Donovan era tratado como um disciplino (pelos mais simpáticos) ou copista (pelos mais hostis) de Dylan. E percebe-se: a folk, a veia poética, o facto de ter aparecido bem mais tarde, já em 65, três anos depois de Bob Dylan. Mas, vá, depois de Dylan, todos chegam atrasados, de Donovan a Jake Bugg ou, para usarmos um nome mais consensual, Devendra Banhart. O maior elogio que podemos fazer a Donovan é esse: depois de Dylan, todos são Donovans, o escocês que melhor se fazia passar por americano. 

Os Beatles e os Stones tinham-nos introduzido ao som oriental da sitar, mas Donovan usa e abusa do instrumento indiano. Nada que, aliado ao consumo de LSD, surpreenda: Donovan era próximo dos Beatles e de Brian Jones. A droga está omnipresente nas letras e, aliás, a introdução de LSD no copo de uma namorada, Sue Lyon, a Lolita de Kubrick, fez com que a relação chegasse ao fim. 

Alguns apontamentos retirados durante a audição de Sunshine Superman, conclusões nossas: 

- Donovan seria mais obcecado por "velvet" (veludo) do que David Lynch: são três as referências que contámos nestas dez canções;
- Este será um disco muito importante para meninos como os Decemberists que recriam os contos e as histórias e fábulas medievais;

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

[Fundo de Catálogo] The Beatles - Revolver (1966)


É tido como um dos melhores discos de sempre, mas vamos considerá-lo antes de mais um dos discos mais livres de sempre. Porque rompe com tudo o que tinha sido feito anteriormente, porque manda o totalitarismo editorial dar uma volta. Sim, é verdade que, como já vimos anteriormente neste blogue, o psicadelismo já tinha tido vários inícios, mas com Revolver é seguro dizer que o modelo psicadélico chega à sua idade adulta. Bem, na verdade nada é seguro em Revolver. Pet Sounds é magnífico, mas é outra coisa. Mesmo Rubber Soul, embora Harrison tenha dito que não via grandes diferenças entre os dois discos, sendo que, para o Beatle, o disco de 1965 era o Volume Um e este o Volume Dois. 

O sétimo dos Beatles marca a preponderância de Lennon em relação a um McCartney baladeiro, perfeito para os Beatles anteriores, menos presente nestes que iam experimentando LSD. Mas Lennon não estava só, Harrison era companhia para as trips e ganhava espaço: três das 14 canções são dele. Lennon materializa as tais trips e acaba por confessar-se: "Beatles are bigger than Jesus". Caldo entornado, a América não lhe perdoa as palavras e faz o que pode: queima os discos. Vale-lhes que essa América não é a mesma América que inspiraram e que tanto os inspirava, ou seja, Beach Boys, Motown/Stax, Dylan. 

Robert Rodriguez, autor entre outras obras de Revolver How the Beatles Reimagined Rock'n'Roll, diz que Revolver criou, nas suas 14 faixas, todos os outros géneros da pop, da  electrónica ao punk, passando pela world music. Acrescentamos que só não terão inventado a soul e o r&b pois já tinham sido inventados. Bem-vindos à era psicadélica.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

[Fundo de Catálogo] The Byrds - Fifth Dimension (1966)


Dizem eles que o psicadelismo começa com este Fifh Dimension dos Byrds. A ideia não estará errada, mas apenas incompleta. É difícil encontrar um disco que tenha dado o tiro de partida para a desenfreada correria que haveria de se seguir. Há Rubber Soul dos Beatles, há Pet Sounds dos  Beach Boys, há Freak Out! dos Mothers of Invention, há Roger the Engineer dos Yardbirds e há, claro, este terceiro registo de uns Byrds já sei Gene Clark o principal compositor dos dois antecessores, pretexto ideal para avançar para a mudança, algo que em 1966 acontecia quase todos os dias. 

Em tempos de expansão espacial e em que o LSD era, passe o exagero e a provocação, mais popular que os Beatles, os Byrds exploram os efeitos da droga criada por Albert Hofmann e o paradoxo que é o seu fascínio pela vida extraterrestre e uma banda de elementos assumidamente cristãos. Da faixa título, as teorias ramificam-se entre os que referem que é uma canção sobre drogas e os que defendem que é uma tentativa de explicar a teoria da relatividade de Einstein, "Mr. Spacemen" é precursora do space-rock e "Eight Miles High" foi influenciada por John Coltrane.  

Ah, e adeus folk-rock. Mais ou menos.