domingo, 29 de janeiro de 2017

[Fundo de Catálogo] Jimi Hendrix - Are You Experienced (1967)


Enquanto os clássicos psicadélicos pululavam quase a ritmo mensal (The Doors, Jefferson Airplane, Velvet Underground & Nico e Country Joe & The Fish só para mencionar os de 1967), era editado um dos discos mais influentes da história do rock and roll. E quando referimos rock and roll, estamos mesmo a referir-nos àquele directo, bruto, lascivo, suado, cru, incendiário (no caso de Hendrix, a coisa haveria de se tornar literal). Hendrix terá inventado este rock and roll. 

E o que de novo? Misturou basicamente todos os géneros até aí inventados até então: jazz, blues, r&b, soul e psicadelismo e, para além disso, deu uso a uma data de pedais e criou condições para que a criação discos carregados de distorção e feedback passasse a ser natural. Mas se é verdade que o disco se distingue essencialmente pela forma como Hendrix toca guitarra (eventualmente, a par de Eric Clapton (Cream) e Frank Zappa), o primeiro guitar hero da história), Are You Experienced acaba por funcionar como um todo, em que as canções são mais importantes que os solos de guitarra. Algures nos anos 70, a ideia inverteu-se e os Pistols resgataram o rock mais primário. A história é mais ou menos esta. 

Mas a verdade é que Hendrix nem merecerá estar no mesmo texto que os Pistols. Ou, como haveria de dizer: I don’t want to be a clown anymore. I don’t want to be a ‘rock and roll star. É verdade que não haveria de por lá ficar muito mais tempo.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

[Fundo de Catálogo] Country Joe & The Fish - Electric Music for the Mind and Body (1967)


Voltamos a repetir: o momento definidor do psicadelismo variará quase de pessoa para pessoa e é por isso que por aqui consideramos não apenas que são vários os pontapés de saída do movimento psicadélico, mas também são vários os seus momentos definidores, seja "Tomorrow Never Knows" dos Beatles, "White Rabit" dos Jefferson Airplane, "Venus in Furs" dos Velvet Underground ou "Section 43" do disco de estreia dos Country Joe & The Fish. Há até uma canção, a primeira pelas nossas contas, a  mencionar LSD, com direito a palavra soletrada: "éle", ésse", "di"! Claro que é mais uma peça central no psicadelismo, com uma base blues muito mais vincada que os pares e uma preponderância dos teclados que apenas encontrar paralelo nos Doors

É curioso perceber que os Country Joe... gozaram de alguma atenção nos anos 60, mas foram perdendo relevância histórica, o caminho inverso a muitas bandas como os Velvet Underground, citando apenas o caso mais gritante. Distinguiram-se ainda pela veia política: o próprio nome diz-se que era uma combinação de uma alcunha de Joseph Stalin (Country Joe) com uma frase de Mao Zedong (moves through the peasantry as the fish does through water), esse mesmo, o da Revolução Cultural Chinesa, do massacre que suprimiu milhões e milhões de seres humanos. Foram claros na crítica a outras guerras, principalmente à do Vietname aqui e aqui, por exemplo. 

A história ainda terá certamente algo para lhes dar.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

[Disco] Foxygen - Hang


Os Foxygen iam acabar, mas afinal não. E a avaliar pelo que aqui ouvimos, Hang confirma: os Foxygen são, à imagem dos Death Grips, uma excelente piada. Depois de uma extraordinária homenagem ào psicadelismo era Summer of Love que foi We Are the 21st Century Ambassadors of Peace & Magic e do exagero do duplo ...And Star Power, os californianos voltam-se a esticar. Desta feita, as fichas no jogo da megalomania são todas colocadas numa orquestra de mais de 40 elementos, alguns deles bem conhecidos (elementos dos Flaming Lips, Matthew E. White, os Lemon Twigs...). Se a anedota mascarada de ópera-rock resulta? Não durante muito tempo. Existe aquela cliché que aponta para o disco que cresce com múltiplas audições. No caso de Hang, o efeito parece ser contrário. E atenção que deste lado está um fã de Age of Adz de Sufjan Stevens. Talvez apercebendo-se disso, a banda despacha a coisa em 30 minutos.

domingo, 22 de janeiro de 2017

[Fundo de Catálogo] Velvet Underground - Velvet Underground and Nico (1967)

A banana está mais do que descascada. Não há muito que se possa acrescentar sobre um disco que já foi dissecado milhares de vezes, mas há sempre a Internet e a nossa percepção pessoal. 

Quanto à Internet, é seguir para uma teoria partilhada no reddit que, não sendo rebuscada e/ou uma pedrada no charco, vale a pena espreitar. Isto se não perderam mais do que dez minutos a pensar que o disco poder uma obra conceptual sobre um drogado.

Já aqui se escreveu que bandas como os Doors e os Jefferson Airplane foram censuradas, embora de maneiras diferentes. No caso dos Velvet Underground, o conteúdo era tão explicito (drogas, dealers, prostitutas...) que poderá ser registado, a par dos discos de viragem dos Beach Boys e Beatles, como primeiro suicídio comercial da história. 30 mil cópias vendidas que, segundo Brian Eno, renderam outras tantas bandas (de forma subtil, colocámos aqui uma das citações mais célebres da história da música pop, talvez assim não soe tão chato). 

A história já tinha oferecido álbuns importantíssimos, Pet Sounds, Sunshine Superman, Revolver, Blonde on Blonde, Rubber Soul, só para citar os de omissão impossível, mas, ainda  que Dylan tenha gravado na cidade, nenhum espelhava tão bem a Nova Iorque do final dos anos 60 Mas nem a aliança de Andy Warhol na produção e tudo o mais evitou o falhanço. O "e tudo o mais" pode ser traduzido pela criação de uma improvável aliança entre americanos e alemães ou, neste caso, uma atriz, modelo e musa de Brian Jones e Dylan, uma alemã chamada Nico (muito antes de Klinsmann treinar a elecção americana naquela que é a única associação germânico-americana que me lembra assim de repente). Há ainda uma vertente mais técnica que está relacionada com John Cale, músico de formação  clássica que odiava folk e adorava La Monte Young e John Cage, que trouxe ideias de gravação que revolucionaram o som da banda. "We were trying to do a Phil Spector thing with as few instruments as possible", diria depois. 

Um ano depois, em Janeiro de 1968, com White Light/White Heat, provariam que o suicídio comercial era o seu modus operandi.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

[Fundo de Catálogo] Jefferson Airplane - Surrealistic Pillow (1967)


Não será apenas o mais importante disco dos Jefferson Airplane, será muito provavelmente o mais importante disco a sair cena da São Francisco pré-Summer of Love que estava apenas a três/quatro meses de distância. 

Para os Jefferson Airplane, essa São Francisco era o centro do universo e tinha como capital o Fillmore, sala por onde passaram quase todos os nomes que interessam dos 60s. Surrealistic Pillow surge logo a seguir à estreia dos Doors, essa espécie de resposta aos sons radiosos dos hippies californianos. Houve quem lhes chamasse de "Peter, Paul & Mary amplificados", mas o som que ouvimos aqui é distinto de tudo o que se passava na cena folk de 66/67. Sim, partia da folk, mas terminava num caldeirão que tem em "White Rubbit" hino essa receita movida a ácidos e que dá pelo nome de psicadelismo. O mesmo que lhes valeu várias vezes a censura. Mas esse som não pode ser dissociado da voz feminina, algo que os distinguiu dos outros. Até aí, as vozes femininas fazia-se a solo, em registos jazz, soul, r&b, folk e country. Grace Slick era outra coisa e ainda trouxe com ela os dois grandes clássicos, "Somebody To Love" e "White Rabbit".



Na altura em que recrutaram Slick, Janis Joplin chegou a ser equacionada como reforço. Difícil imaginar o que teriam sido esses Jefferson Airplane.

sábado, 14 de janeiro de 2017

[Disco] The xx - I See You


Os xx sempre foram implicância da casa. Traduzindo: um aborrecimento de morte. Aparentemente, o motivo pelo qual este disco não tem recebido pelos fãs da velha (já lá vão sete anos) escola, é o mesmo que nos faz apreciá-lo por aqui:  o fim da lamuria gratuita que dá lugar a uma espécie de takeover de Jamie xx, cujo trabalho a solo era até hoje a única coisa saída da banda londrina por aqui apreciada. Tendo em conta o protagonismo dos dois vocalistas, chega a ser paradoxal que este seja um disco pensado por Jamie Smith, mas estão aqui marcas do modelo In Colour, a sua muito celebrada estreia de material original a solo. É tão bom que até as canções que mais devem ao passado nos soam bem.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

[Fundo de Catálogo] The Doors - The Doors (1967)


Em 1967, as bandas podiam acertar. Mas acertar à primeira? Esse feito ficou reservado aos Doors. Doors será uma resposta à música luminosa dos Beach Boys ou dos Mamas and Papas. Uma resposta ao Summer of Love, ao movimento hippie. É como que uma inversão da frase com que arrancam a primeira canção do registo: "Break on Through": You know the day destroys the night. No caso dos Doors, é a noite que destrói o dia. É um disco alicerçado no génio (os testes de Q.I. assim o declaravam) de Jim Morrison, ávido leitor, quase sempre alienado, interessado em filosofia, misiticismo e arte, figura tão enigmática como magnetizante. Ao vivo ficava quieto, mas conseguia que nos fixássemos nele o tempo todo. Há em The Doors referência aos tauismo e ao xamanismo, a um lado místico mascarado da poesia da voz de Morrison. E, claro, as drogas, único ponto comum ao tal movimento hippie. Enfim, no meio artístico, quem é que não se drogava nos anos 60? O próprio nome da banda é inspirado num livro que descreve experiência alucinatórias: Doors of Perception, obra de Aldous Huxley. As letras são explicitas, tão explicitas que deram origem a um dos episódios mais icónicos televisão norte-americana desse ano, no Ed Sullivan. Foram os primeiros a ser censurados à séria, ao ponto de, na altura das reedições recentes se ter dito que andámos a ouvir o disco de estreia errado.