quarta-feira, 28 de junho de 2017

[Fundo de Catálogo] Blood, Sweat & Tears - Child Is Father to the Man (1968)


A experimentação do pós-Sgt Peppers não se sugeria gratuita. Os Rascals, por exemplo, no seu 1º álbum sem o prefixo "Young" arriscaram técnicas de estúdio, mas o álbum caiu em saco roto por não revelar a inovação que outros tentavam trazer à equação. Não basta colocar sons de passarinhos e/ou outras trivialidades para soar fresco e fofo. É por isso que o registo de estreia dos Blood, Sweat & Tears é tão importante: traz o jazz, a música clássica e até a bossa nova para territórios rock. É rock sinfónico? Não é bem isso. Aliás, Child Is Father to the Man soa mais ao material que a Motown ou a Stax faziam sair das suas linhas de montagem. O homem que montou isto tudo, Al Kooper, terá bebido inspiração de um lustroso espectáculo jazz de Maynard Ferguson, em 1960, e lá enfiou uma secção de sopros num disco rock. Os pergaminhos já incluíam o trabalho enquanto teclista em "Like a Rolling Stone" e a actuação no Newport Folk Festival 1965. O líder da anterior banda blues, os The Blues Project, da qual pouco ou nada reza a história, terá recusado os tais sopros. 

terça-feira, 27 de junho de 2017

[Fundo de Catálogo] Velvet Underground - White Light White Heat (1968)


E num ano tudo muda. Despacharam Andy Warhol e Nico, mas deixaram ficar as guitarras abrasivas, a constante auto-sabotagem e as letras que variam entre sexo e drogas. Há aqui duas canções que poderiam estar em Velvet Underground & Nico, a faixa título e "Here She Comes Now", esta de longe a mais acessível do segundo dos Velvet. White Light / White Heat será a coisa pop mais inaudível criada até à data. Se já não eram muitos os fãs, imaginem quantos ficaram. "Ninguém o ouviu", chegou a dizer Lou Reed, não muito tempo antes de nos deixar. Não será assim tão verdade, mas se o Velvet & Nico é um fracasso que passou a um dos discos mais ouvidos de sempre, White Light... ficou mesmo meio esquecido.

sábado, 24 de junho de 2017

[Fundo de Catálogo] Steppenwolf - Steppenwolf (1968)


Tudo começou com Dylan e a electrificação no dia 25 de Julho de 1965, data do lendário concerto no Newport Folk Festival. É mais uma questão de atitude do que de aproximação aquilo que viria a ser cunhado de heavy metal. Hendrix, Cream, Blue Cheer, Spirit, entre outros mais ou menos obscuros foram calibrando e/ou sabotando a fórmula até este rock que nos habituámos a associar a concentrações motard, muito porque "Born to be Wild", o clássico deste registo de estreia dos Stepperwolf deu música à cena de abertura do clássico Easy Rider. Este álbum dos Stepperwolf, aliás, surge directamente associado ao cunhar do termo "heavy metal" devido a essa canção. A certa altura, John Kay canta "I like smoke and lightning / Heavy metal thunder...". Mas este som está longe de ser aquilo a que nos habituarmos a associar ao heavy metal. É blues e r&b bem electrificados. Rock 'n' roll, pronto. 

segunda-feira, 12 de junho de 2017

[Fundo de Catálogo] Spirit - Spirit (1968)


Hoje relativamente esquecidos, os Spirit alcançaram em 68 relativo sucesso comercial. Esta estreia homónima, à distância de quase 50 anos, podemos dizer, equilibra uma inspiração pelo passado (Doors, Pink Floyd, Hendrix, o vocalista Randy California teria tocado com este último) e o futuro (os Led Zeppelin viriam a semi-plagiar "Taurus" em "Starway to Heaven"). Na essência não é mais que outro disco psicadéllico com toques blues e jazz e pormenores orquestrais. Rock progressivo, vá. Terão influenciado gente tão nova como os Temples, por exemplo.

domingo, 11 de junho de 2017

[Fundo de Catálogo] Dr. John - Gris Gris (1968)


Apesar de gravado na Califórnia, o assombrado disco de estreia de Dr. John (ou The Night Tripper como é desde a primeira faixa introduzido) mantém o som de Nova Orleães, estado de onde provém Malcolm John "Mac" Rebennack, Jr. Gri-gris, termo de Nova Orleães para voodoo, é um registo que usa os blues e o jazz como pretexto para explorar caminhos psicadélicos,  mas afastados do som que chegava da paz e amor livre celebrados na Califórnia meses antes. A espiritualidade inerente ao título do disco não se fica por aí. Rebennack teria no seu manifesto de intenções uma música que combinasse sons de Nova Orleães, liderados por um músico imaginário chamado Dr. John, nome inspirado por Johhn Montaine, ditador africano por quem terá sentido uma espécie de parentesco espiritual. Mais uma fritaria, portanto. E, claro, não poderíamos deixar de mencionar o Mardi Gras, tradição local que se manifesta nos momentos mais dançáveis. 

segunda-feira, 5 de junho de 2017

[Fundo de Catálogo] Blue Cheer - Vincebus Eruptum (1968)


Não se percebe bem a intenção de um disco como o de estreia dos Blue Cheer. Percebe-se que vai beber à revolução rock que Hendrix tinha encetado oito meses antes, percebe-se que há uma vontade de pisar terrenos imberbes como o metal ou o stoner, embora na altura os termos ainda não existissem. Não se percebe é o facto de Vincebus Eruptum gozar de uma produção tão inexistente, motivo suficiente para ainda hoje se dizer que também é percursor do noise. É um disco estranho, de solos esquisitos e riffs qb, mais celebrado pela importância do que pela qualidade. Reparem: "Helter Skelter" ainda estava lá longe e a versão de "Summertime Blues" já se fazia ouvir bem mais alto que o clássico dos Beatles. 

domingo, 4 de junho de 2017

[Fundo de Catálogo] The Byrds - The Notorious Byrd Brothers(1968)


É um milagre que isto tenha corrido tão bem, tal foi a confusão que rodeou as gravações de. The Notorious Byrd Brothers, álbum que deixou os Byrds reduzidos a metade: Roger McGuinn e Chris Hillman. No alinhamento dos dois últimos discos estavam também David Crosby e Michael Clarke que chegaram a contribuir, mas acabaram despedidos (o primeiro) ou a despedir-se (o último).

Se em 1962 Ray Charles inaugurou uma fresca mistura country e gospel, mais de cinco anos depois, os Byrds apresentam o country ao rock de ares psicadélicos. Há uma canção que sintetiza bem o registo: "Old John Robertson", cantiga country, com vários truques de estúdio e toques psicadélicos. A veia country haveria de tomar ainda conta deste som, mas já lá vamos.