Pode um disco de versões ser um dos melhores de todos os tempos? Pode, se cada interpretação garantir a si mesma uma nova identidade, se cada canção colocar a superioridade do original em questão. Aqui há uns dias, no carro, ouvia-se o Roleta Russa na Radar. Não nos lembramos do convidado, mas recordamos a pergunta: "conseguem dizer-nos uma interpretação que supere o original?". Resposta: "bem, podem não concordar, mas "(I Can't Get No) Satisfaction" dos Rolling Stones, pelo Otis Redding. Otis Blue é isto, canções que, eventualmente, terão superado os originais.
Há quem diga que não há melhor disco de soul nos anos 60, há quem vá mais longe e diga que não há melhor disco soul em todo o sempre. O miúdo que deixou os tipos da Stax boquiabertos atingia a maturidade com um registo que, como grande parte dos discos da altura, foi gravado em tempo relâmpago: 24 horas, mais coisa menos coisa. É verdade que músicos como Steve Cropper, Donald Dunn, Al Jackson Jr. (todos dos Booker T & MGs) e Isaac Hayes ajudam, mas, por norma, colocamos o talento desses músicos ao serviço de Redding, mas está reportado que a própria banda admitia que o interprete os levava para um outro nível.
Sam Cooke tinha falecido no dia 11 de Dezembro de 64. Coincidência: ironicamente, Otis acabaria por morrer no dia 10 de Dezembro de 67, exactamente três anos depois da sua referência maior.
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