quinta-feira, 17 de julho de 2014

[Fundo de Catálogo] Bill Haley & The Comets - Rock Around the Clock (1955)


Datar o início do rock' n' roll é uma das maiores discussões do século XX e XXI. Já descontando que há quem diga que o rock' n' roll não é mais do que o rythm & blues tocado por brancos, passeamos pelo YouTube e assistimos a acesos debates relativamente a algumas canções dos primórdios do rock n' roll. Há quem diga que é esta, outros dizem que é esta, uma maior quota-parte diz que é esta e a maior parte diz que não é nenhuma destas, mas sim outra, algures perdidas nos finais dos anos 40/inícios dos 50. 



O consenso surge no momento de apontar a primeira canção, aquela canção que tornou o rock' n' roll numa coisa de massas, a canção que alcançou as tabelas de vendas (nos Estados Unidos da América e no Reino Unido, na sequência dos créditos iniciais de Blackboard Jungle) e airplay nas rádios: "Rock Around the Clock", a primeira canção do álbum homónimo, o terceiro de Bill Haley. Mas o parto de uma das mais célebres canções de sempre não foi fácil: o clássico foi editado pela primeira vez como lado B desse outro clássico que é "Thirteen Women (and Only One Man in Town)" e, diz toda a mitologia em redor do mesmo, foi copiado de uma gravação dos finais da década de 40 de Big Joe Turner, apenas porque se chamava "Around the Clock Blues". As canções não são de todo semelhantes e argumenta-se ainda que a melodia da canção de dois minutos e oito segundos de Haley é similar à de "Move it on Over" (1947) de Hank Williams, que, por sua vez, é similar a "Going to Move to Alabama" (1929), de Charley Patton, que, por sua vez, deriva de "Kansas City Blues” (1927), de Jim Jackson. Sim, nos anos 50, o rock’ n’ roll já se auto-citava constantemente.



Mais mitologia: antes de "Rock Around the Clock", cujo título original terá sido "We're Gonna Rock Around the Clock Tonight", Haley tentou uma carreira como cantor country e experimentou relativo sucesso com "Crazy Man, Crazy", canção que atingiu o nº 1 do Top Billboard R&B. A 7 de agosto de 1955, Bill Haley & The Comets haveriam de apresentar-se no Ed Sullivan Show e, dois anos depois, viajaram para a Europa. O sucesso da canção acabou por ser capitalizado em filme e até deu uma paródia para a Rua Sésamo.

O resto do álbum não é tão memorável, mas é material clássico. "Shake, Rattle and Roll" é uma versão do original gravado por Big Joe Turner que chegou ao primeiro lugar no top rythm & blues norte-americano da Billboard. A história cruzou-os várias vezes e Turner e Haley haveriam de se tornar amigos e fazer uma digressão pela Austrália, em 1957. Elvis também ele, gravaria uma versão do clássico. No campo das curiosidades (mórbidas), Danny Cedrone, músico de estúdio que tocou guitarra na versão de Turner haveria de morrer apenas 10 dias depois da gravação, tornando-se esta a sua última e mítica sessão de estúdio. 



"Thirteen Women" conta a história de um homem que sobrevive a uma bomba nuclear e que se vê sozinho, apenas rodeado de mulheres. A guitarra que ouvimos terá sido criada com a intenção de simular explosões de hidrogénio. Mais tarde haveria de aparecer a resposta feminina - versão dos acontecimentos: explosão nuclear com uma única mulher sobrevivente, rodeada de vários homens. 

Especule-se o início do rock' n' roll, mas, tal como o conhecemos, começou aqui. Elvis haveria de explodir pouco depois e é impossível quantificar o número de bandas ou artistas que se sentiram inspirados pela obra do Neil Armstrong do R&B, Mr. Bill Haley e os seus Comets. 

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