quarta-feira, 5 de novembro de 2014

[Fundo de Catálogo] Nina Simone - Little Girl Blue (1958)


Naquela altura não havia ninguém como Nina Simone. Melhor: nem naquela altura, que eram os finais dos anos 50, nem nos anos que se seguiram (até hoje) recebemos alguém como Nina Simone, eximia ao piano, maleável na voz, insuportável no feitio. "Não eram os seguranças que a defendiam, era ela que defendia os seguranças", brincava-se na altura. Nina cedo começou a revelar esses traços de uma personalidade complicada, a mesma que surge espelhada na interpretação destas e de muitas outras canções. No primeiro concerto "a sério" - antes tinha sido cantora e pianista residente num clube, o Exclusive Side Street Club - pai e mãe, que se tinham sentado na primeira fila, foram obrigados pela organização a sentar-se no fundo da sala. Nina insurgiu-se contra a medida racista rejeitando começar o concerto enquanto os pais não regressassem à fila dianteira. E esta atitude leva-nos a uma outra temática: a da luta pelos direitos civis. Nina Simone seria das poucas personalidades a sobreviver. Já antes tinha sido rejeitada no conservatório. Motivo: cor da pele. 

A infância não foi fácil para Eunice Kathleen Waymon, o verdadeiro nome da artista. Nasceu no seio de uma família evangélica pobre e que não aceito as derivações estilísticas da miúda que ainda para mais tinha mau feitio. Eunice aldrabou a mãe e substituiu o nome de baptismo para fazer nascer a lenda Nina Simone. Assim podia actuar à vontade sem que a mãe a apanhasse a interpretar a "música do demónio".


Mas regressemos à primeira ideia: naquela altura não havia ninguém como Nina Simone. Nos anos 50, Sarah Vaughan, Billie Holiday e outras, bastantes outras, editavam novo álbum quase ao ritmo de mês-sim-mês-não, mas limitavam-se a interpretar vocalmente as canções em padrões jazz. Nina era diferente: não só usava o vozeirão de forma dramática, como ainda tocava piano com poucos. É o que faz nesta auspiciosa estreia, maravilhosa interpretação de canções populares e jazz.

Sem comentários:

Enviar um comentário