segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Blood Orange - Cupid Deluxe


Primeiro foi a brincar. Brincar às bandas. Brincar aos punks. Tudo inconsequente, tudo sem pensar mais do que no momento, tudo para engatar umas miúdas ou, sabemos hoje, uns miúdos. Os Test Icicles eram, vá, maus. Menos maus, mas mais aborrecidos eram os Lightspeed Champion e a sua country choninhas, pop que se confunde com inúmeras outras banalidades.  Há um comentário num dos vídeos promocionais que ousa dizer que isto é melhor que Blood Orange. Talvez seja, se compararmos com o ainda insonso primeiro disco do pseudónimo de Devonté Hynes. Agora é a sério. Se o passado lhe servir de alguma coisa será para perceber o que não deve voltar a fazer. Mas já o tínhamos debaixo de olho. Ao longo dos últimos meses, Hynes escreveu e produziu canções para Solange e Sky Ferreira, para além da versão que as MKS fizeram para "Swimming Pools", o original do super-fantástico Kendrick Lamar. Isto agora é a sério.

Esse dedo de produtor é visível, há um cuidado imenso com a apresentação das canções. A parte mais idiota da crítica aponta para a esse pseudo-género que já ninguém percebe onde começa e acaba, a chillwave. A parte mais iluminada aponta para uma capa camaleónica que não dá aso a grandes catalogações. Soul, funk, jazz, hip hop, r&b, enfim, algumas das mais estimulantes linguagens dos nossos tempos. E há uma saudável dose de fanatismo por Prince, embora Hynes aponte para Philip Glass e Arthur Russell como heróis. Acreditamos que será mais uma admiração teórica, de formação do homem enquanto músico. Tal como as suas referências, o músico acredita que no futuro tem que se desafiar constantemente e é por isso que já está envolvido na composição da banda sonora de um novo filme de Gia Coppola e a trabalhar numa ópera. 

Tal como Danny Brown fez há meses com Old, perverso documentário da sua infância e da desgraça em que caiu a falida cidade Detroit, Blood Orange desenvolve Cupid Deluxe à volta de uma Nova Iorque que, apesar de tudo, o continua a entusiasmar sete anos depois daí ter assentado arraiais. Num disco também assombrado por relações falhadas, o produtor escreveu, produziu e tocou quase tudo o que aqui ouvimos, mas também chamou alguma malta indie - David Longstreth (Dirty Projectors) e Carolina Polachek (Chairlift) -, dois rappers (Despot e Skepta), um outro produtor (Clams Casino) e, principalmente, Samantha Urbani, dos Friends, que surge em sete das dez canções de Cupid Deluxe. Nenhuma soa fora do baralho.

Agora é a sério, Mr. Hynes. Até porque, a partir daqui, já não será possível ignorá-lo.



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