sexta-feira, 3 de março de 2017

[Fundo de Catálogo] The Who - The Who Sell Out (1967)


No dia 14 de agosto de 1967, as transmissões de rádio em águas territoriais do Reino Unido passam a não ser permitidas, aniquilando as rádios pirata que aí se refugiavam para oferecer o rock que fugia da programação das BBCs. Dois meses antes, os Who deixam rasto no Monterey Pop Festival e três meses depois, a banda que, apesar do clássico "My Generation", ainda não tinha editado um grande disco, decide lançar um registo conceptual que simulasse a transmissão de uma rádio pirata, com jingles e anúncios inventados. A ironia inerente ao título estende-se à capa e a algumas das canções do disco, em que promovem desodorizantes, Heinz Baked Beans, tatuagens e pomadas para combater o acne. Para além de algumas referências sexuais que são caras aos miúdos, claro, ou não fosse esse o público das rádios pirata.

A primeira metade de The Who Sell Out deixa o espalhafato dos discos anteriores para se envolver no psicadelismo mais debochado e excessivo, à Beatles de Sgt Peppers ou Zappa nos Mothers of Invention ou mesmo dos Stones que tinham acabado de editar Their Satanic Majesties Request. Só Brian Wilson se parecia levar a sério. Na segunda metade, "I Can See for Miles" é tão a sério que, para além de ser tida (de forma ousada, diga-se) como um dos primeiros exemplos de rock progressivo, terá inspirado Paul McCartney a criar "Helter Skelter", para muitos a primeira canção com laivos metal de sempre. A história:o Beatle estaria a ler uma review a The Who Sell Out e deparou-se com uma frase que descrevia "I Can See for Miles" como a "canção mais pesada de sempre". McCartney, claro, teve que se superlativar. Talvez seja então a segunda parte do álbum, sem referência radiofónicas, que, no meio de tanta paródia, tenha acabado por ser levado a sério. É de valor.

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