sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

[Fundo de Catálogo] Love - Forever Changes (1967)

Se Da Capo os inclui no catálogo psicadélico, Forever Changes afasta-os para algo completamente novo em 1967: um registo folk-rock latino-americano. Culpa dos trompetes e do som tipo Herb Alpert & the Tijuana Brass, grupo que nesse mesmo ano lançara Sounds Like... um dos best sellers do ano. Nas referências mais óbvias, os Love iam a Bob Dylan e, como todos os outros, aos Beatles (era Rubber Soul/Revolver). 

Ironicamente, ao contrário do tal disco dos Tijuana Brass, Forever Changes não vendeu quase nada. Os Love colocavam-se do lado dos Doors, companheiros editoriais, e partilhavam o mesmo cinismo perante uma onda de positivismo contrastante com as guerras americanas, internas e externas. Não custa muito acreditar que para um afro-americano como Arthur Lee (cérebro de quase tudo o que está aqui) a luta pelos direitos civis lhe fosse cara. No documentário Love Story disse que um amigo o havia aconselhado a não tocar em assuntos como a política e a religião. "Ele estava enganado",  concluiu. 

Nas palavras do próprio, Lee terá pressentido que não passaria do Verão de 67 e criou um testamento, algo que espelhasse o que sentia, daí que o resultado seja tão pessimista e propositadamente afastado dos ideias do Summer of Love que entretanto já era história. Mas este é também um disco sobre o deteriorar da relação entre Lee e o outro ego do grupo: Bryan MacLean, filho de um arquitecto de Hollywood, o burguês da banda. Seria a última vez que a formação original gravaria junta. Na rodapé das curiosidades, destaque para Neil Young que era suposto produzir, mas, à última hora, decidiu avançar com a sua carreira a solo, embora, nem dois anos depois, tenhamos percebido que não era bem assim. 

Forever Changes é uma espécie de Velvet Underground & Nico na forma como influenciou tantos e passou despercebido no seu tempo. 


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