Não há nenhum outro disco dos Pink Floyd como The Piper at the Gates of Dawn porque não
existem mais álbuns dos Pink Floyd com Syd Barrett sóbrio e ao leme. A estreia
dos britânicos é um reflexo da mente de Barrett, seja do título,
"roubado" a um livro
infantil às letras que, ou são sobre o seu gato ("Lucifer Cat")
ou são inspiradas noutros
livros infantis.
Tal como com vários outros registos psicadélicos, há quem acredite que este é
que é o álbum que sintetiza o movimento. Já o dissemos antes: o psicadelismo
não terá uma obra que o defina, mas sim um conjunto. Estes Pink Floyd
aproximavam-se mais da cena mais negra dos Doors
do que das bandas californianas mais ligadas ao Summer of Love.
As letras e constantes referências espaciais acabaram por conceder a The Piper... o rótulo de primeiro
registo space rock da história. A banda fundia essas notas futuristas (o homem
ainda nem tinha ido à lua) com referências psicadélicas, embora tenham chegado
a dizer que não faziam ideia no que consistia o psicadelismo. Claro que sabiam:
Barrett mantinha uma relação demasiado próxima com LSD e os Pink Floyd
acabariam por visitar as gravações de Sgt.
Pepper's Lonely Hearts Club Band, o clássico (quase literalmente) da porta
do lado, ali nos mesmos estúdios Abbey Road. Haveriam, aliás, de se deixar
influenciar por "Lovely
Rita", trazendo sons de animais e outros efeitos vocais que preenchem
o disco todo. Mas, como disse
e muito bem Joshua Klein, da Pitchfork, por altura do 40º aniversário do disco,
"os resultados não poderiam ter sido mais diferentes, com os Beatles a
controlares o estudo e os Pink Floyd a usarem-no para perder controlo". Um
caos talvez inspirado na loucura dos Mothers of Invention.
Há mais: há referências bíblicas, "Take Up Thy Stethoscope and Walk",
eventual alusão a João 5:8., a dicotomia entre "Astronomy Domine",
sendo que "Domine" é o latim para “Deus”, e a faixa que se segue, “Lucifer
Sam". E, claro, "Interstellar
Overdrive" que acaba por conceder pistas em relação ao futuro que
haveria de ser o dos Pink Floy sem Syd Barrett.
É um registo tão importante que há melómanos que são apenas fãs deste disco dos
Floyd. Fãs tão ilustres como este, por exemplo.
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